Para quem sonha em trabalhar com arte na indústria de jogos
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“Nunca ninguém havia me falado que eu poderia trabalhar com isso ou até mesmo ganhar dinheiro desta forma. Tudo parecia meio milagroso”.

– Mariano Steiner, 3D Character Artist

O artista brasileiro entrevistado desta semana é destaque na indústria de games há quase 10 anos. Mariano Steiner é especialista em modelagem 3D de personagens e possui trabalhos produzidos para empresas como Crytek, Plastic Wax e McFarlane Toys. Atualmente trabalha na Rockstar Games, no Canadá.
Você pode assistir a entrevista online que eu fiz com o Mariano no vídeo acima, ou ler toda a entrevista transcrita abaixo. Aproveite para conhecer mais sobre o trabalho do artista em seu Portfólio, Site Oficial e Facebook.

Entrevista

Game Concept Art Brasil: Eu gostaria primeiro de agradecê-lo pelo tempo cedido para esta entrevista e já pedir para que você comece contando a sua história neste mercado e como você se tornou artista de jogos.
Mariano Steiner: Eu que agradeço a oportunidade. A minha história não tem algo mirabolante. Eu cresci como a maioria das pessoas que atuam nesta área, imerso a filmes, bonecos e games. Ainda criança eu já comecei a desenhar, mas nunca pensava em trabalhar com isso (tanto que até hoje o meu forte não é desenho em si).

Nunca ninguém havia me falado que eu poderia trabalhar com isso ou até mesmo ganhar dinheiro desta forma. Tudo parecia meio milagroso!

O que aconteceu foi que, já terminando a escola, alguns amigos haviam entrado na faculdade de Desenho Industrial e eu acabei entrando junto com eles, o que é engraçado, pois conheço muita gente desta área que começou exatamente assim.

Eu tive muita sorte neste meu começo de carreira, sabe. Meu primeiro golpe de sorte foi entrar nesta faculdade de Desenho Industrial. Cheguei a cursar 1 ano do curso até que no ano seguinte entrou um cara na minha turma que mudou completamente a minha visão de curso e área, mostrando muitas das possibilidades profissionais que eu poderia ter. Sem querer esse cara era o Rafael Grassetti (portfólio), que hoje é um dos maiores nomes de arte e 3D no mercado.

GCArt: Dá para imaginar o quanto o Rafael te inspirou profissionalmente então…
Mariano: Com certeza. O Rafael na época já trabalhava em produtora. Lembro inclusive que foi durante um trabalho na faculdade, quando eu vi pela primeira vez o Rafael abrindo o 3ds Max e mostrando um modelo 3D de um personagem. Foi aí que eu vi o que eu realmente queria fazer.

Foi daí que eu comecei a estudar mesmo e me informar mais sobre a área. Uma das primeiras coisas que eu fiz foi sair da faculdade, pois não era nada o que eu realmente queria profissionalmente.

Entrei em um curso de Design de Animação na universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. Era o primeiro curso da universidade nesta área, mas mesmo assim eu estava rodeado de gente que tinha o mesmo objetivo profissional que eu. Então eu comecei a estudar 3D o máximo que eu pude.

® Mariano Steiner - TamTam - Samurai Shodown

® Mariano Steiner – TamTam – Samurai Shodown

GCArt: Você se sentiu um pouco pressionado por ter descoberto a área relativamente tarde?
Mariano: Não. Nem era tanto por isso. Eu só fiquei mesmo empolgado em querer aprender pra valer. Na medida que eu comecei a produzir coisas que me agradavam é que foi aumentando o interesse. Foi aí que eu vi que estava passando cerca de 16 horas por dia estudando e aprendendo cada vez mais.

Cerca de uns 8 meses depois eu tive outro golpe de sorte na área. Foi quando eu recebi a ligação do dono da agência Tecnho Image (mesmo sem eu ter enviado nada para eles) convidando para fazer uma entrevista. No fim ele acabou me contratando para a equipe, formada por outros três artistas.

GCArt: E como foi esse seu primeiro trabalho na área?
Mariano: Um mês depois trabalhando nesta agência, entrou para a equipe ninguém menos que o Thiago Hoisel (portfólio), um verdadeiro monstro da ilustração brasileira. Mesmo trabalhando com 2D, o Thiago foi me dando uma série de dicas para melhor o meu trabalho. E isso me ajudou bastante a melhorar o meu trabalho.

Cinco meses depois entrou outro profissional na equipe, o Pedro Conti (portfólio), outro mito da indústria (o cara acabou de trabalhar na produção da animação Moana, da Disney, só para citar um exemplo). Então ali, naquele momento, eu comecei a ver a sorte que eu havia tido ao entrar em um estúdio pequeno que estava se tornando em uma potência na produção de arte.

Eu trabalhei na Techno Image por 2 anos e aprendi um monte. Desde a parte de arquitetura, render, modelagem, enfim, eu consegui formar uma base generalista bem grande.

Logo depois eu entrei na Tribbo Post (na época uma produtora de comerciais de TV) e foi ótimo, pois eu pude aprender a produção de arte para animação, uma vez que até então eu só produzia material para publicidade impressa. A Tribbo foi outra grande escola que eu tive, pois além de tudo isso eu pude trabalhar ao lado do Bruno Câmara, que é outro profissional excelente, além de outros profissionais incríveis. Sem querer eu fui me rodeando de profissionais excelentes, que se tornaram amigos e me ensinaram muita coisa.

GCArt: E como foi virar freelancer para o mercado?
Mariano: Dois anos depois acabei saindo da Tribbo porque eu queria muito sair do mercado de publicidade e trabalhar com cinematics, filmes e games. Foi assim que eu saí de lá e virei freelancer. Fiquei três anos como freelancer, dividindo os projetos que eu fazia com os estudos que eu queria manter.

Como freelancer eu trabalhei com animações para filmes, cinematics e algumas coisas menores para games, até que comecei a dar aulas de 3D na escola ICS em São Paulo. Fiquei cerca de 3 anos dando aula de escultura digital.

Logo depois comecei a trabalhar com escultura de action figures para a McFarlane Toys até que eu comecei a buscar novos desafios na área em uma empresa para trabalhar contratado internamente.

® Mariano Steiner - Chimp Fight!

® Mariano Steiner – Chimp Fight!

GCArt: E aí chegamos na Rockstar Games, certo?
Mariano: Pois é, quando eu decidi deixar de ser freelancer, comecei a enviar meu portfólio para várias empresas do mercado, até que tive um retorno da Rockstar Games, que havia gostado do meu trabalho e queria fazer uma entrevista.
Porém, depois que eu já havia feito a entrevista e eles já haviam aprovado tudo, levou cerca de 1 ano até o meu visto ser aprovado para o Canadá. Mas deu certo! Hoje estou há quase 2 anos em Toronto, trabalhando na Rockstar Games.

GCArt: Quais são os prós e contras que você pode citar entre ser freelancer e trabalhar dentro de um estúdio neste mercado?
Mariano: Eu acho que depende muito do tipo do profissional. Eu conheço gente que se adapta muito bem com a rotina do estúdio, com o desafio de ter um chefe e trabalhar com um time. Hoje por exemplo na maioria dos estúdios de games fora do Brasil pagam, além do salário fixo mensal, um bônus no final de ano e outro de lançamento do jogo. Ou seja, você acaba ganhando bem. Não a ponto de ficar rico, mas a ponto de ter mais estabilidade financeira mesmo.

Já, como freelancer, eu me adaptei muito bem por gostar de ficar sozinho em casa. E como eu morava no Brasil e atendia empresas internacionais, acabava que financeiramente compensava muito pela valorização da moeda estrangeira frente ao Real. Mas claro que eu acredito que tudo depende da hora certa. Se você se torna freelancer muito cedo, corre o risco de ganhar menos e trabalhar muito mais.

O bom desta área é que podemos ao longo da carreira alternar entre ser freelancer e trabalhar dentro e um estúdio. E é divertido das duas formas.

GCArt: Você disse que levou cerca de 1 ano para ter o seu visto ser aprovado pelo Canadá. Como foi esse processo?
Mariano: Bom, para mim foi desesperador. Eu lembro que assinei o contrato com a empresa e já fiquei imaginando que iria logo. Mas uma semana depois o RH da empresa começou a me pressionar para que eu estivesse casado caso quisesse que a minha esposa viesse comigo. Ou seja, tivemos que fazer uma correria e casamos na semana seguinte achando que o processo seria rápido. Casamos e voltamos cada um para a casa dos pais, pois estava certo que logo viajaríamos para o Canadá.

Mas aí passaram 8 meses e nada acontecia. Acabamos indo morar juntos, alugamos apartamento, mobiliamos tudo e, três meses depois, saiu o visto!

O processo em si do visto foi feito toda pela empresa. Eles apenas me solicitavam a lista de documentos necessários, eu corria para providenciar e assim o tempo ia passando. Ou seja, trabalho mesmo eu não tive. Foi preciso mesmo paciência.

 

® Mariano Steiner - Insect Warlord

® Mariano Steiner – Insect Warlord

GCArt: Você acha que existe um peso e desafio maior por estar trabalhando com uma empresa deste tamanho e com uma propriedade intelectual tão importante?

Mariano: Com certeza. Mas antes eu pensava o mesmo com as empresas de publicidade e os prazos insanos que tínhamos. Então eu já tinha uma pressão grande nesta época, pois um único dia de atraso na produção acarretava em um custo bem grande para o estúdio.

GCArt: Quais artistas você tem como referência neste mercado e que te inspiram profissionalmente?
Mariano: Além dos artistas que eu já citei, eu tenho outros brasileiros que além de me inspirarem profissionalmente são amigos que eu fiz neste mercado. Caras como o Bruno Câmara, Pedro Conti, Bruno Mello, Caio Cesar, Alex Oliver, nossa tem tantos. Eu gosto muito de arte tradicional, então eu realmente sigo muita gente. Um cara que eu estou viciado no trabalho dele é o Simon Lee, escultor tradicional genial.

GCArt: Você se vê trabalhando em outras áreas na produção de arte para jogos? Ou você acredita que a criação de personagens 3D sempre foi o seu sonho?
Mariano: Eu acredito que criação de personagens é o que eu nasci pra fazer mesmo. Desde criança, brincando de modelagem, desenhando personagem, enfim, é o que eu sempre quis fazer mesmo.

® Mariano Steiner - Waiting for the bus... ( Leech Girl )

® Mariano Steiner – Waiting for the bus… ( Leech Girl )

GCArt: E que dica você dá para quem quer entrar nesta área?
Mariano: Eu acho que hoje em dia com a internet você encontra tudo. Com a internet você consegue estudar com gente do mundo todo, conhecer gente com o mesmo interesse e aprender muito sem mesmo sair de casa. Claro que tem a questão de oportunidade na área e do investimento mesmo. Esta é uma área que você precisa investir em um computador bom e uma boa internet se você quiser realmente se aprofundar nos estudos e aprender o máximo do mercado.

O mercado está crescendo cada vez mais e no Brasil não é diferente. Do meu ponto de vista tem trabalho para todo mundo. Se você está começando, você encontrará clientes que também são menores e que estão buscando gente nova justamente para pagar menos. Assim como se você tiver em um nível estelar você terá empresas gigantes procurando profissionais já renomados.
É uma área relativamente nova, inclusive para explicar para os pais que muitas vezes não entendem muito esta área. Mas com disciplina e dedicação você certamente terá ótimas oportunidades no mercado.

GCArt: Quais são os seus próximos passos agora? Você pensa em voltar a dar aula, por exemplo?
Mariano: Eu sempre gostei de dar aula, então é algo que eu penso realmente no futuro em voltar a fazer. Mas profissionalmente mesmo eu não tenho nada definido em mente. O objetivo maior nestes anos todos era conquistar isso que estou realizando agora, morar em outro país e trabalhar em uma empresa grande.

GCArt: Mariano, gostaria de agradecer novamente a sua entrevista.
Mariano: Eu também gostaria de agradecer a oportunidade. É sempre legal comentar sobre o trabalho e estar em contato com quem também está começando. Quando eu comecei eu entrava bastante em fóruns e gostava muito deste tipo de conteúdo com entrevista para tentar aprender com os outros e ouvir outras histórias de quem já atua na área.

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